Por: Jackson Bittencourt

Uma tempestade silenciosa se aproxima e ameaça todo o futuro do mercado de trabalho. Os ventos desta mudança chegam junto com uma geração inteira que nasceu no novo milênio e está dando os primeiros passos nesse universo – ainda – desconhecido. São os jovens dos anos 2000, que frequentemente não possuem o preparo necessário para encarar muitas das exigências do dia a dia. O resultado não poderia ser outro: 84% das empresas não conseguem encontrar profissionais qualificados. Esse número, revelado pelo Índice de Confiança Robert Half, expõe uma crise latente na força de trabalho do Brasil.

Muitos jovens entram no mercado de trabalho com diplomas na mão, mas sem as habilidades práticas ou as soft skills indispensáveis para garantir uma carreira de longo prazo. É como possuir um mapa do tesouro, mas não saber ler a bússola. Nesse contexto, programas de aprendizagem e estágio se tornam essenciais para preencher essa lacuna entre teoria e prática, ao fornecer experiências valiosas e orientação direta dos melhores profissionais. É somente assim que se consegue conectar os pré-requisitos do mercado com candidatos que possuam as qualificações certas para cada cargo.

O poder do aprendizado contínuo e da chance de desenvolver habilidades vai além de transformar vidas: é a chave que abre portas para jovens que enfrentam um horizonte incerto. Nos bastidores do sucesso de corporações que se deparam com talentos raros, muitas vezes estão os estudantes de programas de aprendizagem. Não seria surpresa descobrir que as empresas que fazem parte dos 16% que encontram mão de obra qualificada são as mesmas que integram aprendizes em seu corpo de funcionários. Para esses jovens, isso tudo é mais que uma oportunidade para enriquecer seus currículos; é a alavanca que impulsiona suas vidas em direção a um amanhã brilhante e cheio de realizações.

Você já parou para pensar como a ausência de profissionais qualificados pode afetar não apenas as empresas, mas também a economia nacional? É como ter um navio em alto-mar sem marinheiros experientes para enfrentar uma tempestade. Nem a empresa mais bem posicionada no mercado conseguirá seguir navegando se poucos funcionários estiverem preparados para reforçar as amarras dos mastros e manter a estabilidade do leme. Quando essa expertise falta, não só a produção da indústria diminui e os preços dos produtos aumentam, mas também a oferta de empregos é prejudicada, contribuindo para um cenário de desemprego crescente. É um naufrágio econômico que só poderá ser evitado quando investirmos plenamente no desenvolvimento de talentos.

A falta de mão de obra qualificada significa que, mesmo com centenas de vagas disponíveis, não temos profissionais preparados para preenchê-las. Ainda mais agora, quando as empresas elevam suas exigências e os padrões técnicos atingem novos picos de complexidade. Esse descompasso entre a oferta e a procura de talentos resulta em uma rachadura que se alarga a cada novo movimento da transformação digital. Estamos imersos em uma revolução tecnológica que demanda e implora por novas competências. Mas manter-se relevante nesse novo momento é um malabarismo sobre uma esteira que nunca desacelera. E, no mundo da inovação, ficar parado é retroceder aos tempos das cavernas.

O tic-tac incessante do relógio nos lembra que não podemos desperdiçar sequer um segundo. Se quisermos vislumbrar um futuro no qual a mão de obra qualificada seja regra, precisamos começar agora a apostar nos programas de aprendizagem e estágio, que já estão fazendo a diferença na vida de tantas pessoas. Uma formação qualificada que prepara os profissionais para os desafios do mercado e reflete diretamente na geração de oportunidades. É por meio desse esforço que vamos conseguir alçar a economia às alturas e garantir um crescimento sustentável para o nosso país.

Afinal, ao ancorarmos nosso futuro na força da educação, mesmo que as tormentas nunca sejam previsíveis, estaremos preparados para navegar na imensidão do alto- mar.

*Jackson Bittencourt é economista, coordenador do Curso de Ciências Econômicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUCPR) e conselheiro do Centro de Integração Empresa-Escola do Paraná (CIEE/PR)

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